Muitas das coisas em que acredita não tem fundamento

Vossa vida, desde o berço até o túmulo tem sido emaranhada pela superstição e pelos falsos temores. Saibam que muitas das coisas em que acredita não tem fundamento. Sabei que muitos dos perigos que temeis são fruto de vossa própria imaginação.

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Nada somos se não fantoches daqueles que está mais alto, postos na terra para que ele possa experimentar as coisas deste planeta. Sentimos, embora obscuramente, nossos direitos inatos, nossas associações eternas e, por pensar obscuramente imaginamos, tememos, racionalizamos.

 

O homem na terra – disse o lama – é um entre irracional dado a acreditar naquilo que não é, em vez de naquilo que é. O homem grandamente voltado para a supestição e para as falças crenças.

No entanto, não existem perigos (depois da morte), salvo naqueles que a vossa imaginação criou e que desapareceram como uma lufada de fumo tomada pelo vento, se reconhecerdes a vontade.

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A vossa volta existem elementais formas sem cérebro que reflectirão tão-somento os vossos pensamentos de terror, como as aguas paradas de um poço reflectirão as vossas formas se vos debruçardes sobre ele. São elementos sem cérebro. Nada mais que criaturas do momento, como os pensamentos de um homem embriagado. Não tenhais medo, não há nada que vos possa fazer mal.

 

 

Sublinhado no livro A Vela Nº 13

 

A Grande mentira

AO som de vários tambores, Paulina Chiziane fez, há alguns anos, incursões a um mundo que diz ter sido relegado à condição de submundo.

(…)

É nesta senda que a escritora produziu o seu mais recente livro, “Por Quem Vibram os Tambores do Além”

 

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“Ensinaram-me a amar Deus e a igreja e a odiar o curandeiro e a sua ‘ndomba’ (palhota). Porque não me ensinaram a não pensar nem a acreditar cegamente o que me rodeia, penso e questiono. Aqui tento levantar um debate à volta do porquê da negação de um mundo que é realmente um mundo e não submundo, como às vezes parece”

(…)

“É um reconhecimento de que temos muito mais autores de histórias no nosso país. Às vezes nem sempre são os que escrevem, mas são grandes autores. É o caso do meu parceiro nesta viagem”.

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“Por Quem Vibram os Tambores do Além” é uma espécie de reivindicação e denúncia que Paulina Chiziane faz em relação do certo eurocentrismo que os africanos herdaram do tempo da colonização. Em jeito de reivindicação de um reconhecimento para as tradições africanas, crenças e formas de ver o mundo, a escritora questiona a legitimidade dos colonizadores em relega-las a um plano mesquinho, vil. “Não queriam como continuam a não querer reconhecer o nosso rico património, incluindo as crenças. Fazem-no tanto e de forma diabólica, até hoje, na sua mentalidade cristã, que continuam a cantar que curandeiro é coisa do diabo. Grande mentira!”

(…)

“Deus é o único que criou a todos de maneira igual, deu a Moisés o poder da magia, também deu aos curandeiros o mesmo poder. Por que é que hoje, os curandeiros são condenados e Moisés é louvado?”

 

Sublinhado no Jornal Notícias – “As Vibrações de tambores que o Eurocentrismo escamoteia”